26/07/2025

Meu Terceiro Mês no RJ


 Três meses no RJ e esse foi o mês mais louco de todos. 

A verdade é que eu nem sei por onde começar, foram tantas coisas boas e tantas coisas que nem sei descrever, mas eu prometi a vocês que seria sincera em cada post ao contar a vida aqui. Então, vamos lá. 

Eu estava cada vez mais feliz aqui, no dia 30 de junho eu fui conhecer minha prima Patrícia (filha do meu tio, irmão da minha mãe), falamos sobre eu não estar falando com meu lado materno da família e que não via uma forma de me aproximar.


Minha prima Vitória me mandou mensagem dizendo que tinha voltado para casa mais cedo porque estava doente, eu então resolvi voltar para ajudar, caso precisasse. 

Mas dia 1º de julho, uma nova história começou e foi aí que tudo mudou. 

Minha tia Ozana entrou em casa triste e ligando para minha tia Toinha (irmã dela), perguntei se tinha acontecido algo com ela, mas como ela não consegue falar direito, eu não consegui entender. Chamei o marido dela e ele pediu para ela desligar a chamada telefônica porque precisava falar comigo. 

Ele sentou e começou a explicar o que estava acontecendo. Segundo ele, ia começar uma reforma na casa, construir um novo quarto e mudar o piso de toda a casa. Até aí, tudo bem, eu já sabia. Explicou que ficariam no vizinho e que lá não teria lugar para mim. E perguntou “o que você prefere ir para a casa da sua tia Toinha ou voltar para o nordeste?”. Eu gelei, embora eu gaguejasse, eu respondi a única certeza que eu tinha “para o nordeste, eu não volto”. 

Minha tia Toinha retornou a ligação para saber o que era e ele contou a história, pergunto use eu poderia ficar com ela durante essa reforma que levará alguns longos meses. Ela disse que precisava falar com o marido, mas eu já sabia qual seria a resposta. 

Depois que ela desligou, eu comecei a conversar com alguns amigos pelo whatsapp, eu confesso que senti muita vontade de chorar e engolir o choro estava sendo muito difícil, saí para o quintal e chorei um pouco, enquanto contava aos meus amigos o que estava acontecendo. Todos morando longe, ficaram preocupados, mas me ouviram com atenção tentando me ajudar a encontrar uma solução. 

E eu confesso que, embora eu ame o Rio Grande do Norte, voltar a morar lá agora, estava fora de cogitação. Eu batalhei muito para vir, corri atrás de cada centavo para pagar passagem e, infelizmente, só não trouxe dinheiro para pagar um local por causa de emergência familiar. 

Naquela noite, eu não consegui mais dormir nem comer, passei a noite inteira acordada e implorando a Deus por uma solução, tentando segurar o choro para não acordar ninguém e nem demonstrar a angústia que estava sentindo. 

No dia seguinte, eu fui gravar na Record. Eu chorei do BRT da Vaz Lobo até chegar na Record, eu não conseguia me controlar, eu estava arrasada e já tinha segurado o choro demais. Desabafei por áudio com meus amigos e contei que estava muito mal, um deles falou que passou a noite em oração por mim, e que não tinha dormido também. 

Ao chegar na Record, encontrei um amigo que fiz na minha primeira figuração no Rio, ele me ouviu e falou que íamos encontrar uma solução. Telefonei para minha tia para saber se ela tinha falado com o marido e ela depois de muito tempo contou que eu não poderia ficar lá, se fosse duas semanas até poderia, mais do que isso, ela não queria lá. Segundo ela, o problema não seria a reforma, o marido da minha tia Ozana só não me queria mais lá e que, como eu não tinha emprego fixo, ele queria que eu fosse embora de lá. Eu não conseguia respirar ouvindo aquilo. 

Até porque ele era o primeiro a dizer que tudo ficaria bem e que era questão de tempo até conseguir um bom emprego e que eu não precisava me preocupar tanto. 

Eu disse a ela que daria meu jeito e que não queria as duas semanas lá. Tracei planos que me ajudassem a procurar lugares para ficar por um tempo, alguns colegas de elenco me ofereceram a casa deles para ficar e um me mandou o endereço de uma kitnet que ia desocupar em um mês. 

Liguei para meus pais e expliquei tudo, eles me conhecem e sabiam que eu não iria para qualquer lugar, falaram que me apoiariam no que eu decidisse. Depois liguei para minha prima Patrícia e pedi que me indicasse na empresa de serviços gerais e contei a ela o que tinha acontecido. 

A gravação nesse dia foi muito legal, contracenamos com o protagonista, o Murilo Cezar, e nos divertimos muito, mas dentro de mim, eu estava angustiada e a ansiedade me controlando. 

Na volta para casa, eu estava com a cabeça confusa, uma coisa era o que o marido de Ozana tinha me dito, outra coisa era o que Toinha tinha contado. E a ideia de voltar para casa era terrível. 

Quando cheguei, ele perguntou se eu tinha falado com meus pais e eu disse que sim, que eles falaram que me apoiariam no que eu decidisse e encerramos o papo. Eu não conseguia comer nem conversar, tampouco consegui dormir, foi mais uma noite que eu fiquei acordada esperando amanhecer. 

No dia seguinte, eu fui a uma entrevista de emprego lá no centro e aproveitei para procurar pensões para morar, mas não consegui achar nada certo. Quando eu estava voltando para o metrô vi uma mensagem do meu pai pedindo para ligar urgente, fiz isso e quando ele atendeu me jogou a bomba. 

Ele disse que o marido da minha tia tinha ligado para eles e sido muito grosso, perguntando se ele não era pai e que deveria ter me obrigado a voltar a força para o nordeste, ainda falou com minha mãe dizendo a mesma coisa e que, em certos momentos, mandou minha mãe calar a boca. Além de fazer críticas sobre mim e dizer que eu não podia ficar lá. 

Eu desabei, achei tudo muito estranho e comecei a chorar sentada no chão da estação do metrô. Meu pai falou que compraria uma passagem para eu voltar para que eu não dormisse na rua e que pensaríamos juntos em uma forma de eu voltar depois para o Rio. Me mãe chorava sem parar e eu só conseguia dizer que estava tão feliz aqui e que tudo isso parecia surreal. Na verdade, eu não sei quem chorava mais, se era eu ou eles. 

Depois de chorar por um tempo na estação, eu voltei para perto de onde eu tinha passado mais cedo e entrei na igreja, me joguei aos pés de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima e implorei que ela me cobrisse com o manto dela, que me ajudasse a conseguir lugar para ficar, que eu não tivesse que ir embora, eu nem sei quanto tempo passei ali. 

Voltei para a estação e a ideia da passagem foi esquecida depois que eu vi os preços, tanto de ônibus quanto de avião estavam caríssimas. E era impossível comprar naquele momento. Eu só pensava em sair daquela casa e dormir ali mesmo no metrô. 

Decidi voltar e pegar minhas coisas, apesar do medo que eu estava sentindo. Saí do metrô e peguei o BRT, e adivinha quem estava lá? Exatamente: o marido da minha tia. Mas minha surpresa maior é que ele não me contou nada, sorriu e eu fiquei sem entender nada. Quando descemos na estação, eu o questionei, eu perguntei se fiz algo de errado e ele disse que não. Eu perguntei por que ele tinha ligado para meu pai e ele disse que achou estranho meu pai não ter ligado para saber o que tinha acontecido para eu sair de lá e eu perguntei novamente “e aconteceu alguma coisa?”, ele novamente disse que não. Eu fiquei sem entender nada e continuou me tratando bem. Quando chegamos em casa, eu mandei mensagem para meus pais e disse que estava tudo bem e que tinha sido apenas um mal-entendido. Eu ainda conversava com meu pai quando meu tio (irmão da minha mãe) me ligou, eu achei estranho, mas atendi. Ele me disse que minha mãe tinha falado com minha tia (irmã dela) suplicando por socorro e que ela queria meu endereço para ir me buscar. 

Eu expliquei o que tinha acontecido e disse que tinha sido só um mal-entendido e que estava tudo bem, que não precisava. Mas eu sabia que não estava tudo bem, se minha mãe falou com ela chorando e suplicando era porque a situação tinha sido pesada mesmo. Mas eu não podia ir para a casa da minha tia, depois de tudo que aconteceu, eu não tinha nem como aparecer lá “de mala e cuia”. 

Uma amiga me ligou e falou para eu ir para a casa dela, depois outra amiga me ofereceu a casa (essa, por sinal, é de longa data), até uma freira me ofereceu hospedagem por tempo indeterminado. E eu decidi que sim, iria conhecer a casa de uma delas e se desse certo seria só até a kitnet vagar e eu poder me mudar. O emprego de faxineira ia dar certo e eu teria como pagar. 

Foi mais uma noite que eu não consegui dormir, eu queria sair de lá, porque com tudo que Toinha e meus pais me disseram, ele não me queria ali, mas eu não saí naquele dia. Esperei amanhecer e me arrumei para ir ao Via Parque, marquei com minha amiga lá para irmos juntas a casa dela, depois do workshop que veríamos. Mas quando cheguei no Via Parque, eu dei de cara com minha tia (irmã da minha mãe), ela falou que tinha vindo me buscar. Eu dei todos os argumentos para não ir, apresentei minha amiga e falei que ia para a casa dela, mas ela insistia. 

Conversamos por um bom tempo, eu falei que depois da nossa discussão eu não queria contato, mas ela insistiu e eu falei que tinha saudade dela, do meu tio e, mais que tudo, saudade do meu avô. Ela contou porque não pode trazer minha vó e eu finalmente entendi que não estava tudo um mar de rosas na vida dela, como ela deixava entender nas ligações. 

Depois que ela saiu, eu liguei para meus pais, eles me contaram mais uma vez sobre a ligação do marido da minha tia, eu pedi os detalhes e fiquei surpresa com o que eu ouvia. E confesso que mais doloroso de tudo, é que ele preocupou meus pais, eu não gosto de meter minha família nos meus problemas. Além disso, quando eu perguntava, ele falava que estava tudo bem, o que me deixava ainda mais confusa e sem entender se eu fiz ou deixei de fazer algo. 

Mas o que fez eu bater o martelo foi quando minha vó falou comigo e disse que eu devia vir para a casa da minha tia, que apesar de tudo, ela queria que eu fosse para a casa dela. Eu prometi que sim, liguei para minha tia e falei que ia pegar minhas coisas na casa de Ozana. 

E isso não foi fácil, dizer adeus a minha tia e a minha prima foi doloroso, confesso que não chorei porque não tinha mais lágrimas, eu parecia fria, mas estava devastada por dentro, minha tia Ozana chorava muito e eu não sabia o que fazer. Ela foi esperar o uber comigo e enquanto chorava, eu disse a verdade “não foi escolha minha sair agora, eu não estou indo embora porque quero”, depois perguntei se eu fiz algo ou deixei de fazer algo, nas limitações dela ainda conseguiu dizer que não e me abraçou forte. 

Eu vim para a casa da minha tia, fiquei um tempo abraçada com meu avô, eu estava com tanta saudade dele, o beijei e fiquei ali abraçada recebendo todo amor que eu estava precisando. Descobri que minha tia tinha um quarto preparado para mim há anos e fiquei surpresa com todo carinho, em vez de julgamentos e frases do tipo “bem feito” ou “eu te avisei”, foi só cuidado e carinho. 

Minha ansiedade passou dias para diminuir, passei dias para conseguir dormir novamente e até para comer todas as refeições principais do dia. Meu psicológico ficou muito alterado e eu demorei a relaxar. 

Com o passar dos dias tudo foi se organizando, minha tia e eu conversamos e ela me incentivou a desistir do trabalho de faxineira, porque isso ia atrapalhar meus estudos de teatro e eu não poderia fazer as figurações (já que o trabalho seria de segunda a segunda das 7h da manhã às 10h da noite). 

No domingo seguinte, eu fui a missa e quando cheguei, eu me deparei com uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, ali eu tive mais uma vez a certeza de que ela tinha me coberto com seu manto e me trazido para mais pertinho dela. 

Fiz novos amigos trabalhando como figurante que me ajudaram a conseguir novos trabalhos e fui chamada para fazer figuração na Globo. Primeiro, em Êta Mundo Melhor!, contracenamos ao lado do Dudu Azevedo e da Jeniffer Nascimento. Outro dia, na mesma novela, com a Larissa Manoela e o Rainer Cadete, por sinal, a Lari é um amorzinho, no final da gravação dela, ela saiu entregando balinhas para todo mundo: a produção, os funcionários e nós figurantes. Depois, eu fiz Dona de Mim e fiquei feliz em conhecer o Marcello Novaes e o Marcos Pasquim (esse último, foi emocionante, porque ele fez Chiquititas, novela que fez eu entender que eu queria ser atriz). 



Essa semana, eu gravei no aeroporto Galeão, uma figuração para a segunda temporada de Amor da Minha Vida, onde conhecemos Sérgio Malheiros e a Clarice Falcão. Foi uma noite surpreendente, pernoitamos no aeroporto e quando terminou já era 4h da madrugada, fiquei até as 6h da manhã esperando para ir de BRT para casa, fiz novos amigos na figuração que me fizeram companhia. 

Cheguei em casa às 7h30, tomei banho e saí correndo para a Record para gravar figuração para a próxima série O Senhor e a Serva. Voltei a noite para casa, debaixo de muita chuva e muito feliz. 

É isso, esse mês começou parecendo que era o fim, que tudo tinha acabado, mas cheguei ao final tendo a certeza que foi um recomeço e sigo vivendo meus sonhos e lutando por eles. 

Ainda não entendi por que teve que ser assim, porque tudo isso aconteceu, mas estou muito feliz e animada para os pximos capítulos da minha história.

Beijos!

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